domingo, 20 de julho de 2008
L.A.( Crónica descosida porque me comovi).O facto é que me interessa muito mais um padeiro que um economista
Sempre me senti bem nas padarias: o cheiro, o lume, os padeiros enfarinhados que eu achava, acho ainda, serem anjos que se transviaram, de braços cobertos por uma poeira celeste. Tudo neles era branco até as sobrancelhas, as pestanas. O olhar branco também. Os gestos. Não olhos cegos, olhos brancos. E eu à porta a espantar-me. O eco das vozes nos tijolos, dos passos, da lenha no forno. Bom como o pão: ora toma, António. Aprende a escrever à maneira. O facto é que me interessa muito mais um padeiro que um economista. Ou um gestor.
Criaturas que, não sei porquê, me dão pena: economistas, gestores, administradores, directores, banqueiros. Deve ser triste ganhar dinheiro assim. O que sonhará um economista, a que brincava um gestor em criança? Ou nasceram já crescidos? Imagino-os debaixo do chuveiro, de gravata, a falar ao telemóvel. E sabe-se que são velhos não pelo aspecto mas porque quando contam que arranjaram uma secretária boa se referem a um móvel. O que sonhará um economista posso imaginar mais ou menos, agora o que sonha a mulher de um economista é que me preocupa. Se eu fosse mulher de um economista sonhava com canalizadores ou mecânicos de automóvel, homens que usam as mãos e não lêem revistas de golfe nos domingos de chuva. Estou a brincar. Não conheço nenhum economista, aliás. Se conhecesse abria-lhe logo a tampa a fim de espiar o que traz na barriga: cartões de crédito, canetas caras, camisas por medida? Sempre andei mal enjorcado, eu, para desespero da minha mãe:
Andas tão mal enjorcado, filho.
Todos os anos a minha companhia lá da guerra faz um almoço com os que sobejam da miséria em que andámos. Não neste último almoço, no penúltimo, o furriel Firmino Alves começou a anotar os telemóveis dos nossos camaradas para os contactos da refeição seguinte, até que chegou ao Pontinha. Pontinha é a alcunha do ordenança da messe de oficiais, que morava na Pontinha. Como a cabeça dele era grande (continua a ser grande) chamavam-lhe também Porta-aviões porque dava para os aviões aterrarem.
O Pontinha, como muitos dos soldados, vive com dificuldades. Ao fim-de-semana engraxa sapatos na mira de equilibrar o orçamento. Gosto muito do Pontinha a quem obrigava a cortar a carne em bocados de dois por três centímetros, por haver decidido ser a capacidade da minha boca. Media aquilo e exigia Quatro milímetros a mais, Pontinha, corta outra vez e o Pontinha, que remédio, cortava. Ainda hoje, nesses almoços, me quer cortar a carne. Falar nos meus camaradas comove-me: a expressão irmãos de armas é tão verdade. Enquanto nos aguentarmos por cá. Mesmo depois. Zé Jorge: continuamos irmãos de armas. Cabo Sota: admiro a tua coragem até ao fundo da alma. Sozinho com a Breda, uma metralhadorazeca, aguentou um ataque.
E vive mal, percebem? Como se deixa viver mal um herói? Ao acompanhá-lo ao táxi em que voltava, doente, ao Alentejo, avisei o condutor:
Você leva aí um grande homem, sabia, um dos maiores homens que conheço e, como todos os grandes homens da guerra, de uma infinita modéstia, bondoso e sereno. Não lhe chego aos calcanhares. Cabo Sota, tu mereces a continência de um general. O Zé Luís, oficial de operações especiais, que em matéria de coragem não necessitava de aprender com ninguém:
Eram duros
expressão que constitui para nós o supremo elogio. Adiante. Contava eu que o furriel Firmino Alves anotava os telemóveis até que chegou ao Pontinha e como fizera com os outros perguntou:
Tens um telemóvel, Pontinha?
e o Pontinha logo, a mostrar serviço:
Não, mas a minha mulher tem um microondas não fosse a gente pensar que ele era um badameco qualquer. Pode parecer esquisito ou parvo ou o que quiserem, mas quem cortava a minha carne era um magnata cuja mulher tem um microondas, e aí está o melhor título de nobreza (aliás o único) que possuo. Este ano o Pontinha, depois de me desdobrar o guardanapo (se eu o desdobrasse ele ofendia-se) olhou-me bem nos olhos e declarou:
Se quiser vou para sua casa, faço-lhe o comer, dou-lho e não levo um tostão por isso e eu todo arrepiadinho de ternura. Boaventura, Nini, Licínio, vocês todos caramba como a gente somos irmãos. Unamuno, que muito respeito, tem páginas admiráveis acerca da valentia dos portugueses. Tens razão, Zé Luís: eram duros. Ganas de explicar às mulheres deles, aos filhos deles, o orgulho que tenho em ser amigo dos pais, em que os pais sejam meus amigos. Não: irmãos de armas. Não: irmãos. E bons como o pão. Ao lado disto que maior elogio se pode fazer? Ao menos que o País os beije antes de os deitar fora e lhes peça desculpa. E há mais anjos para além dos padeiros, de arma nas unhas mata fora. Nenhum deles é banqueiro, claro. Nem administrador. Nenhum deles joga golfe. Jogaram golfe num campo de um só buraco onde não é a bola que cai.
É um rapaz de vinte anos. E acabo aqui, antes que seja tarde para marcar o número de um microondas.
Apreciem....o verdadeiro estado da Naçon!
sábado, 19 de julho de 2008
Agora que já pouco te falta

Crónica de António Lobo Antunes
Acabei de lanchar no cafezinho em que como uma torrada e voltei para aqui, o lugar onde escrevo e onde desde meados de novembro não escrevo nada. Terminei um livro por essa altura, para ser publicado em Portugal no fim do ano que vem, e nestes mais de dois meses nem uma linha. Sento-me à mesa e nada. Há quatro ou cinco dias uma coisa começou a formar-se dentro de mim. Não posso dizer que seja uma ideia porque não é uma ideia, são filamentos, vozes, vagas caras que se desvanecem. Dá-me a sensação que é o próximo trabalho. Decidi começar no dia 25 de fevereiro, na ilusão que até lá o material se defina um pouco. Quero fazer o meu livro mais importante, o definitivo, o último, tão importante que, depois dele, já não precise de compor nada. Então saio e vou para um banco de jardim contar pombos e assistir à bisca dos reformados. Talvez ponha um anúncio de convívio no jornal. A semana passada li um desses em que o cavalheiro começava por anunciar que tinha carta de ligeiros e pesados. Fiquei a sonhar com a carta de ligeiros e pesados o dia inteiro. Noutro uma senhora pedia um homem educado e não fumador. Imaginei uma viúva a beber chá de tília a uma camilha com braseira dentro. Talvez os nossos dedos se encontrassem no bule. Retratos de defuntos, incluindo um marido sombrio numa moldura com rosinhas de cobre, e ela a inspeccionar-me a roupa, suspeitosa. Dedos ossudos, quase transparentes, que deixavam que os acariciasse um momento antes de se escaparem numa vergonha corada. Um gato a desaparecer quando fechava os olhos, tornando-se bibelot. Cortinas a esconderem a rua. Sofás protegidos por plásticos. Uma esfregona espreitando num desvão.
Portanto desde meados de novembro que não escrevo nada. Espero. Normalmente acho que acabei, que não volto a ser capaz. Agora apareceu-me este fiozinho de esperança. Mas o que me vem à cabeça é tão difícil de fazer, tão ambicioso, tão para além das palavras e das minhas forças. Só começo quando estou bem seguro de não ser capaz. Não seria mais fácil beber chá de tília a uma camilha com braseira dentro? 22 de janeiro hoje um dia, sei lá porquê, longo, longo. Sol e pombos na rua, criaturas vestidas de verde a multarem ferozmente os automóveis estacionados, uma rapariga que caminha como os peixes de aquário, um espasmo de barbatanas e pronto. Saio da porta, volto à mesa. Onde é que eu ia? E quem se importa onde é que eu ia, onde é que eu vou? As cartas por responder acumulam-se na mesinha. Caixotes de livros. Sorrisos de pessoas de quem gostei e a morte levou. Levou mas continuam comigo, tão presentes. Respiram. De algumas oiço--lhes a voz. Olá a todos, deixem-se estar aí. Embora finja que não, necessito tanto de companhia. Um estar aí que é já muito. E daqui a nada noite e eu dissolvido nela. Dissolvido nela. Dissolvido nela. Até não me ficar nem uma ideia de quem sou. Cavalheiro sem carta de ligeiros e pesados procura senhora nas mesmas condições, quer dizer sem uma ideia de quem é. Se abrir a torneira ouvirei o ruído do mar? Em pequeno, na cama, as ondas chegavam até mim, uma após outra, misturadas com o vento nos pinheiros e o imenso mistério da vida. Escutava-as na certeza de ser feliz e eterno. Amanhecia e o mar calava-se. Via-o da janela no mesmo sítio, em silêncio, ele que no escuro encostava a cabeça aos caixilhos para me ver dormir e me seguia com aqueles olhos que o mar tem, ao mesmo tempo zangados e cheios de lágrimas e, no corredor da casa, os passos da insónia, tac, tac, tac. Não sei se a 25 de fevereiro começo a escrever. Mudo de posição na cadeira, volto a página, pergunto ´
- Como é que se faz um livro?
porque continuo sem saber como se faz um livro. Não me acho capaz de explicar como fiz os que até agora se publicaram, o que lembro melhor é o esforço enorme e, por vezes, mais raramente, uma alegria indizível. Ainda existirá algum em mim? O mar e o cacto a seguir ao muro, a oscilar rigidamente. Agarra-te ao teu fiozinho de esperança, experimenta. Começa a preparar a mão, coisa que contigo leva tempo. Tenta que aquilo que existe em qualquer parte tua caminhe na direcção certa onde as palavras te esperam, adormecidas. Acorda-as devagarinho, não escutes os passos da insónia, tac, tac, tac, no corredor. Tens 10 anos, 20 anos, tens todas as idades ao mesmo tempo, estás cheio de medo mas começa. O mar, o cacto, o sol, os pombos. Deixa tudo o que não seja o livro e começa. Se tiveres sorte é o teu livro. Se tiveres ainda mais sorte o teu último livro, a razão de teres nascido. Depois, sem te voltares para trás, acenas adeus à medida que te afastas para um jardim de reformados até que a morte te diga
- Já vai sendo tempo, filho
e poderás sorrir-lhe como a uma namorada antiga que nunca envelheceu.
Sorrir-lhe
(entendes o que eu digo?)
numa mistura de timidez e confiança, porque
(entendes mesmo o que eu digo?)
te tornarás feliz e eterno.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
dando a mão à ANABELA, vai uma.....BRUSCHETTA????
1 dente de Alho inteiroFatias de pão saloio
3 colheres de sopa de Azeite
10 folhas de Manjericão em juliana fina ( ou secos)
2 fatias de Presunto fatiado (fininho) ou queijo fresco
1 colher de sopa de Shalota picada1 colher de sopa de Vinagre de balsâmico
1-Numa taça juntar cebola, tomate, manjericão, azeite e balsâmico. Temperar com um pouco de sal e pimenta e mexer bem.
2-Fritar no Tefflon com fioziho azeite, fatias de pão saloio.
3-Esfregar no pão torrado o dente de alho para lhe dar um perfume
4-Cobrir o pão com o preparado de tomate e por ultimo a fatia de presunto.
Servir e chorar por mais!
ARMINDO 1- SARDOEIRA 1

A animosidade entre o vereador do PSD na Câmara de Amarante João Sardoeira e o presidente da câmara Armindo Abreu (PS) sobe de tom a cada semana que passa. Depois de o social-democrata ter chamado "palhaço" ao socialista, alegadamente por ter sido apelidado de "desonesto", como ficou escrito em acta, João Sardoeira vem agora acusar Armindo Abreu de o ter ameaçado de agressão com um furador de papéis. O presidente confirmou ao Marão Online que pegou no furador depois de "ter sido ofendido profundamente". Não se cumprimentam sequer, há quase um mês.
o outro quase perde a cabeça
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Ainda o ponto e a virgula.,;

Ao ler a tua desconcertante mensagem STOP! dei comigo em juízos drásticos, gelei e : "Dei Pomigo a Pensar nos Pequeníssimos Pormenores que Pazem de nós Pessoas de Perdade. Pomos entidades Puitíssimo Pomplexas ... POIS SOMOS?
Tãaaaaaaaaao arriscado quanto construir uma opinião baseada no que se vê, será construir uma opinião baseada no que se lê. É que nesta escrita digitada quase nunca existem erros, nem rasuras, nem papel amarrotado...
Também não existem letras irregulares nem desenhadas nem pingos de lágrimas ou espinhos.. os silêncios têm de caber toidos nos três pontos e as emoções em dois ou mais, de exclamação! O que é q será mais fácil? Nada é fácil,afinal!
Exemplo: Stop ... ou STOP!!!!