Adjunto de Sócrates apontado como a razão de ser do pagamento de luvas no Freeport 18.04.2009, José António Cerejo e Mariana Oliveira
A transmissão integral do DVD em que Smith diz que subornou Sócrates conduz a um nome nunca referido, Filipe Boa Baptista, actual secretário de Estado adjuntoA Um novo protagonista no caso Freeport surgiu ontem, na sequência da das imagens do DVD que a TVI divulgou parcialmente no Jornal de Nacional de Sexta. Trata-se de Filipe Boa Baptista, antigo chefe de gabinete de José Sócrates, quando este era ministro do Ambiente, que posteriormente ocupou o cargo de inspector--geral do Ambiente e que actualmente é secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro.
O seu nome não foi expressamente citado na conversa entre Charles Smith, João Cabral e um administrador do Freeport cujas imagens a TVI revelou, mas há uma alusão de João Cabral, ex-funcionário da empresa que assessorou o licenciamento do outlet, que lança o nome deste novo protagonista: "O homem que estava na Inspecção do Ambiente foi secretário pessoal dele [Sócrates], percebes as ligações?", disse João Cabral. A frase foi uma resposta ao administrador Alan Perkins, que questionou Smith e Cabral sobre os alegados subornos pagos já depois de o ex-ministro do Ambiente deixar o poder.
Na cabeça do novo administrador, que foi nomeado em 2007 após a compra do Freeport pelo grupo Carlyle e terá sido o responsável pela gravação clandestina do encontro, a história do suborno parecia não fazer sentido precisamente por os pagamentos terem sido feitos em 2002 e 2003 quando José Sócrates já não não era ministro.
João Cabral, que trabalhava com Smith na assessoria do projecto, respondeu: Sócrates já não estava no Governo, mas à frente da Inspecção do Ambiente, um departamento muito importante no caso, estava um homem que foi secretário pessoal dele e era preferível pagar, numa alusão a Filipe Baptista. Realçando que Sócrates tinha "grandes conhecimentos", João Cabral concluiu: "É por isso que toda a gente tem medo de não pagar".
Cabral referia-se a uma figura quase desconhecida, mas com um papel central nos gabinetes de Sócrates desde os anos 90: Filipe Alberto da Boa Baptista foi chefe de gabinete no Ministério do Ambiente até Março de 2002, altura em que o Governo de Guterres caiu, logo após a viabilização do Freeport. Cinco meses depois, porém, as portas do ministério abriram-se-lhe de novo, desta vez pela mão do novo ministro Isaltino Morais, do PSD. Em Agosto de 2002, foi nomeado inspector-geral do Ambiente, cargo em que se manteve até Sócrates ganhar as eleições em 2005 e o chamar de novo. Nas suas mãos estava a capacidade de travar, senão inviabilizar, por razões ambientais, a construção do Freeport, em curso em 2002 e 2003.
Na página oficial do executivo, a sua função passa despercebida, aparecendo apenas na composição detalhada do Governo. E do seu perfil consta apenas o início do seu cargo actual, em 14 de Março de 2005. Ontem, o PÚBLICO tentou contactar Filipe Baptista através do gabinete do primeiro-
-ministro, mas até ao fecho desta edição não recebeu qualquer resposta do actual secretário de Estado adjunto de José Sócrates. Quanto à divulgação das imagens do DVD, um dos assessores de imprensa do primeiro-ministro, Luís Bernardo, insistiu que não há nada a acrescentar.
Na gravação, Charles Smith explica detalhadamente como decorreu o processo, apoiando-se numa folha que não é visível para explicar a Perkins os valores que foram pagos pela Freeport. "Foi acordada uma contribuição para o partido", referiu inesperadamente Smith.
O escocês, arguido no processo em Portugal, explica que, no início, a Freeport fez as transferências directamente para a conta da Smith & Pedro, o que obrigou ao pagamento de impostos, tendo-se mudado depois de estratégia para que a empresa não pudesse vir a ser associada aos pagamentos. Mais tarde, precisa que as entregas foram sempre feitas "em dinheiro vivo" ao longo de 2002 e 2003, em "tranches de três, quatro mil euros".
Lembra-me um ARLEQUIM!!!