quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Não


Não conhecemos, não os conhecemos. Falo do estranho aspecto de como alguns nos entram e saem de rompate da nossa vida. Assaltam-nos, trazem consigo um exaustivo labor de relações. Todo eles são simpatias num cafezinho, numa ternura desmesurada feita de fisgas com que nos atingem. E roubam-nos num gozo especial de carinhosos incensos. Um dia, sem que nada o fizesse prever, sentem-se cheios de amor por outros e vão mimá-los, implacáveis nas suas urgências. Sumem-se para sempre. Ou quase.

Por vezes, debruçados à janela ou de pé na soleira da porta, topam connosco e, quais reis ou rainhas, sem mesmo perguntarem se estamos vivos, soltam-nos um «Há quanto tempo!» E chegam depois as grandes e últimas novidades, a vida atarefada, as desculpas esfarrapadas.

É então que, pela milésima vez, nos perguntamos por que terão tais passageiros de apear-se para nos estremunharem com o seu enroscar, as suas conveniências, as suas conivências. O que terão para nos oferecer que sempre nos escapa? A que desejos inabaláveis não teremos nós correspondido? Tê-los-emos apavorado? Não conhecemos, não os conhecemos.

3 comentários:

Anabela Magalhães disse...

Vou ficar a pensar nisto.

Avó Pirueta disse...

Olha, Clap, hoje acordaste muito profundo. Ou são saudades. O caso é que estás a contagiar-me.Vou também ficar a pensar, para ajudar a Anabela...

Passiflora Maré disse...

O homem e a sua circunstância!
E aqui também fica bem: O homem e a sua linguagem!
Uma e outra fontes de permanentes dúvidas...conflitos...reticências...