sábado, 2 de agosto de 2008

Viver sempre também cansa


As paisagens não se transformam
Não cai neve vermelha
Não há flores que voem,
A lua não tem olhos
Niguém vai pintar olhos à lua
Tudo é igual, mecanico e exacto
Ainda por cima os homens são os homens
Soluçam, bebem riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos
discursos do cavaco, guterres e carvalhas
guerras, orgulhos em transe
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à morte!

Pois não era mais humano
Morrer por um bocadinho
De vez em quando
E recomeçar depois
Achando tudo mais novo?

Ah! Se eu podesse suicidar-me por seis meses
Morre em cima dum divã
Com a cabeça sobre uma almofada
Confiante e sereno por saber
Que tu velavas, meu amor do norte.

Quando viessem perguntar por mim
Havias de dizer com teu sorriso
Onde arde um coração em melodia
Matou-se esta manhã
Agora não o vou ressuscitar
Por uma bagatela

José Gomes Ferreira

5 comentários:

Anónimo disse...

Clap, eu adorei o poema e achei extraordinária a capacidade profética de José Gomes Ferreira em prever os discursos cavacais, socratais e guterrais! E lembrei-me também de uma colega minha do ántigo 5º ano, hoje denominado 9º, que, ao estudar os Lusíadas, acreditava que Camões tinha previsto coisas que ele punha na boca das personagens. Querida Isabel! É ela que vai comigo passar oito dias a um sítio para o qual jé te convidei, pois não é aconselhável ir para lá sozinha e dos meus três pretendentes (a sério!) não me apetece levar senão um, que não está para aí virado. É a vida, como diria o ex-futuro Guterres, num dia sem inspiração.Maria BernardaPS. Como correu o pic-nic de salada russa? Fiquei com curiosidade... Ando a fazer dieta...

Anabela Magalhães disse...

Como pode ele saber, MB?
Malandra!!!!
Bjs

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

Toda a gente se estampa!!!!
É a vidinha.

laurita disse...

Não tem muito a ver, mas li hoje este poema e gosteeeii. Aqui vai:

"There are a few answers, such as:
Literature matters.
What else is there.
What am I going to do with my life.
Write another book, I suppose.
What else is there.
I expect no answer.

Poems teach one that much:
to expect no answer.
But keep on asking questions;
that is important.
Just hope the house doesn't fall down
for I have no insurance."

Veronica Forrest-Thompson (excerto)

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

Tudo se liga, Laurita.
Finja que não ouve,finja que não vê.. tudo passará e Setembro virá rápido.